Oferta de recursos para infraestrutura e qualificação do fluxo de visitantes são os principais pontos positivos
Florianópolis tem dificuldade para manter estrutura ampla para atender turistas na alta temporada de verão - Daniel Queiroz/Arquivo/ND |
A notícia de que a Prefeitura de Florianópolis estuda implantar uma taxa de turismo agradou o setor turístico. Empresários e representantes da comunidade, inicialmente, mostraram-se apreensivos. Pouco a pouco, porém, os benefícios ganharam espaço na argumentação e a cidade parece estar mais aberta à proposta.
O otimismo se resguarda, entre outros aspectos, no exemplo de Bombinhas. Lá, apesar da cobrança, o fluxo de turistas manteve-se em alta, o comércio continuou faturando e o município conseguiu realizar diversas melhorias ambientais com o dinheiro da taxa. Melhorias que chegaram até mesmo a impactar na saúde da população.
Em Florianópolis, o recurso levantado com a cobrança também é o principal motivo para que a comunidade esteja aberta à proposta. Fernando Willrich, vice-presidente da Fecomércio SC (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), por exemplo, se mostra simpático à cobrança.
Willrich acredita que a taxa tende a trazer dois tipos de benefício. O primeiro é atrair e reter turistas de poder aquisitivo mais alto. O segundo benefício é levantar fundos para melhorias na cidade. Essas melhorias atrairiam novos turistas e melhorariam a qualidade de vida dos próprios moradores. “A cidade carece de melhorias estruturais, desde preservação até o aproveitamento das áreas ambientais e turísticas. A taxa poderia mudar essa realidade”, opina Willrich, considerando que a Fecomércio ainda espera o estudo da prefeitura para emitir uma opinião oficial.
Desafios para a implantação
Humberto Freccia Netto, presidente do Convention & Visitors Bureau (entidade que também não tem posição oficial sobre o assunto), ressalta que em toda essa discussão o mais importante será definir o destino e o uso do dinheiro. O receio dele é que a taxa se torne mais uma cobrança pública, sem retorno à população. “Tem que ser usado diretamente na melhoria para o meio ambiente e turismo. Temos o exemplo positivo da Lagoa do Peri. A lagoa recebeu uma infraestrutura muito boa recentemente e, por isso, se tornou um polo de visitação que antes não era muito aproveitado. Florianópolis precisa ter mais locais assim”, exemplifica.
Luciano Pinheiro, presidente da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis), faz coro à preocupação com o destino do dinheiro, mas acrescenta também os desafios para implantação. Pinheiro ressalta que Florianópolis é uma capital e de perfil muito diferente de Bombinhas, tornando muito mais difícil implementar uma taxa apenas para visitantes. “Nossa complexidade urbana vai demandar muito esforço e estudo. É importante que haja muita discussão nos fóruns apropriados e fique claro onde cada centavo será utilizado”, diz.
Cidade precisa de mais dinheiro para suportar pico da temporada
Sérgio Rodrigues da Costa é presidente da Ajin (Associação de Proprietários e Moradores de Jurerê Internacional) e sente na pele como a alta temporada de verão impacta na rotina e no caixa da cidade. Isso porque a Ajin mantém ações próprias para a manutenção de parte da infraestrutura e da segurança de Jurerê.
A associação faz reparos, como nas passarelas da areia da praia, e também mantém um sistema de segurança, com câmeras de monitoramento e equipes de vigilância e atendimento em caso de alguma ocorrência. “O aumento do fluxo de pessoas da temporada atinge diretamente o nosso caixa. Durante todo o ano, trabalhamos no azul, mas nessa época entramos em déficit. Isso porque o número de ocorrências cresce muito e nossa estrutura fixa não suporta”, conta.
Costa ressalta que essa mesma lógica é sentida pelo poder público. Segundo ele, a cidade não consegue manter uma estrutura ampla para atender os turistas que chegam apenas no verão. É como se a prefeitura precisasse manter duas cidades. Uma de fevereiro a novembro, e outra para a temporada.
Por isso, o presidente da Ajin acredita que a taxa poderia ajudar a melhorar essa realidade. O dinheiro extra, cobrado dos visitantes, deve ser usado para manter a estrutura ideal para suportar os picos do fluxo de turistas. “A taxa poderia contribuir bastante para a melhoria da cidade. Isso beneficia moradores e turistas. A infraestrutura de Florianópolis não suporta o aumento drástico da população na temporada e a prefeitura não consegue resolver esse problema. A taxa, desde que usada para os fins corretos, traria alívio para todo mundo”, diz.
Mais cidades querem cobrar taxa de preservação ambiental
A ideia de taxar o turista para preservar o meio ambiente está ganhando força em alguns municípios de Santa Catarina. O bom exemplo de Bombinhas inspira Florianópolis e pelo menos mais quatro prefeituras a estudar uma medida semelhante.
- Governador Celso Ramos: É o município com o projeto mais avançado. A lei chegou a ser aprovada, mas uma contestação judicial fez a cidade rever alguns parâmetros e ajustar a ideia. Agora, o foco dos recursos será na conservação ambiental. A proposta voltou para a Justiça. Se o tribunal aprovar, o próximo passo será a contratação da empresa e a definição do valor das tarifas.
- Porto Belo: A prefeitura está em conversas iniciais para instituir uma TAP (Tarifa de Preservação Ambiental). Porém, essa missão vai requerer bastante negociação. Isso porque Porto Belo é a única passagem para Bombinhas. Para evitar que os visitantes paguem duas taxas, a ideia é que haja apenas uma cobrança, sendo os recursos divididos entre Porto Belo e Bombinhas. As conversas entre as cidades estão apenas em fase inicial e não há previsão para a instituição da taxa.
- Itapoá: O município está dando os primeiros passos. Na temporada de verão, instalou câmeras de monitoramento na entrada e saída da cidade. O objetivo é analisar quantos carros visitam o município no verão. Com base no resultado, Itapoá iniciará um estudo mais aprofundado sobre a viabilidade da taxa.
- São Francisco do Sul: “A cidade tem 50 mil habitantes e um orçamento para 50 mil habitantes. No verão, não conseguimos atender a todos da melhor forma”. Esse é o principal argumento de Gabriel Daniel Conorath, secretário do Meio Ambiente, para inaugurar a discussão sobre a taxa. No verão, São Francisco do Sul começou a contagem de carros de turistas que chegam na cidade. Além disso, está mapeando as vulnerabilidades ambientais e o desgaste na orla. Segundo Conorath, se a comunidade aprovar e a Câmara de Vereadores votar o projeto ainda neste ano, a previsão é que tarifa seja cobrada a partir de janeiro de 2019.
Fonte: ND