Baía da Babitonga é laboratório de preservação das toninhas em São Francisco do Sul


No local, onde vivem de 50 a 60 animais, os estudos possibilitam descobertas importantes sobre aspectos da espécie.



A Baía da Babitonga em São Francisco do Sul e Joinville é um laboratório a céu aberto para pesquisadores de toninhas do Brasil. Estudos que possibilitam descobertas importantes sobre aspectos da espécie – como se distribuem, genética e ecossistema – são desenvolvidos no Projeto Toninhas. Essas informações são usadas na preservação dos animais, classificados como 'criticamente em perigo de extinção' e cujo desaparecimento pode desequilibrar todo o sistema da baía.

As toninhas são pequenos golfinhos que vivem apenas na costa brasileira, do Espírito Santo até o Sul de Santa Catarina, no Uruguai e na Argentina. Normalmente, elas permanecem bem perto da praia. A Baía da Babitonga é o único lugar onde são encontradas fora da zona costeira em todo o mundo.

Pesquisas indicam que atualmente em torno de 50 a 60 animais vivem na região. Essa população tem uma genética diferente das demais, por viver isolada. Nessa área fica o ano inteiro, se alimenta e reproduz. Isso faz com que a espécie ganhe uma importância ainda maior, segundo a bióloga e coordenadora do projeto, Marta Cremer.

— Na Babitonga o mar é mais calmo e tem períodos muito bons em que conseguimos ver os animais e fazer trabalhos com eles vivos. Isso nos permite desenvolver coisas que em outros lugares não haveria como fazer — explica.

Essa particularidade resultou em ganhos importantes. Marta conta que antes do Projeto Toninhas, praticamente não havia fotos dos animais vivos. Hoje, as imagens feitas na Babitonga ilustram livros e enciclopédias de todo mundo.

Também foi feito um estudo mais técnico na região que ajudou a mensurar a população de toninhas em outros locais do país. Em parceria com um instituto, o projeto gerou alguns fatores de correção para modelos matemáticos. A bióloga explica que na baía é possível ver os animais e conseguir calcular o tempo em que eles ficam na superfície ou embaixo d’água.

Planos contra a extinção


 Por ser ameaçada de extinção, a espécie é um problema de competência do governo federal, de acordo com a legislação. Em 2010, foi elaborado um plano de ação que previu competências a pesquisadores e gestores para tentar reduzir os riscos. A coordenadora do Projeto Toninhas participou desse plano, que passará por revisão neste ano.

Segundo Marta Cremer, houve uma avaliação desse plano no início de 2018. Ela conta que é possível perceber que muitas ações de competência do governo federal não foram executadas. A bióloga cita manejo da pesca e redução dos tamanhos de redes como melhorias que não foram realizadas nos últimos oito anos. Segundo ela, o número de redes na água é tão grande que fica insustentável para as espécies do mar e para a própria pesca.

— A gestão da pesca industrial é muito importante — critica.

Um plano de ação em paralelo foi feito em 2015, elaborado a partir de um workshop realizado em São Francisco do Sul, com a presença da maior parte dos pesquisadores de Brasil, Uruguai e Argentina, além de representantes do governo dos três países.

Gestão do problema junto das comunidades

Esse plano foi encaminhado e aprovado pela Comissão Internacional da Baleia, um organismo que atua na gestão dos mamíferos marinhos, como baleias e golfinhos. Para Marta, o respaldo dessa comissão dá uma força política maior para cobrar a atuação do governo brasileiro.

Outro pedido da especialista é a criação de mais unidades de conservação de uso sustentável, como a área de preservação ambiental da Baleia Franca, no Sul do Estado. Nestes locais é possível fazer uma gestão por meio de um conselho com representação da sociedade e permite a tomada de decisões localmente.

— Não é fácil fazer gestão, mas eles (na APA da Baleia Franca) vêm fazendo isso há muitos anos. Não que eles tenham resolvido todos os problemas. Pelo menos há uma luz no fim do túnel — defende Marta.

Projeto

O Projeto Toninhas nasceu em 1997. O maior avanço deu-se quando da aprovação do trabalho em edital da Petrobras, em 2010. A ênfase passou a ser a toninha – antes o programa trabalhava também com botos e outras espécies. A atuação se intensificou dentro da Baía da Babitonga e expandiu aos poucos para a região costeira. Atualmente, o Toninhas inclui São Francisco do Sul e Área de Preservação Ambiental da Baleia Franca – de Florianópolis a Balneário Rincão. Cinco pessoas dedicam tempo integral ao projeto, além de uma coordenadora e de oito alunos da Univille.


Mamífero de hábitos discretos
A toninha tem características que a diferenciam dos demais golfinhos. Ela não é como as que aparecem em filmes, saltando o tempo todo. Essa espécie tem um comportamento discreto, que não gosta de expor o corpo fora da água. No aspecto físico, chega a cerca de 1,60 metro de comprimento quando adulta, sendo o segundo menor golfinho do mundo. 
O animal tem o rostro (o bico) mais longo entre as espécies.  Os pesquisadores não contam com dados precisos sobre quanto tempo vivem as toninhas, porque muitas informações vêm a partir dos animais encontrados mortos nas praias. Há o registro de uma toninha que chegou aos 21 anos, porém existe esperança de que a espécie viva mais.
Elas se reproduzem como mamíferos e têm um filhote de cada vez. O intervalo de nascimento, em geral, é de dois anos, com registros de fêmeas que tiveram filhotes anualmente. Os recém-nascidos demoram de três a cinco anos para crescer e começar a reproduzir.
Até conseguir pescar sozinho o alimento, o filhote é dependente da mãe. Ele vive de leite até cerca de seis meses de idade, quando gradualmente a mãe ensina a cria a ser independente na alimentação. Eles comem peixes pequenos, de dez a 15 centímetros, e lulas. Os filhotes menores também comem camarão, por ser uma presa mais fácil. 


Atividade pesqueira é a maior ameaça

Nos últimos dois anos, mais de 1,2 mil toninhas foram encontradas mortas no trecho de Laguna (SC) a Ubatuba (SP), segundo dados do Sistema de Informação de Monitoramento de Biota Aquática. A suspeita dos pesquisadores é de que o número de mortes seja ainda maior, já que um grande percentual não chega às praias. Esse levantamento é feito desde 2015. Antes, não havia dados sobre a mortandade da espécie, o que dificulta saber se o número está crescendo nos últimos anos. No entanto, a coordenadora do projeto Toninhas afirma que levando em conta que os animais geram novos filhotes a cada dois anos – e cada um deles levará pelo menos três anos para reproduzir – a quantidade é preocupante.

— O que a gente sabe é que esse número é insustentável. A conta não fecha — reforça Marta.

A maior ameaça às toninhas hoje é a atividade pesqueira. São ocorrências acidentais em que os animais se prendem na rede e morrem afogados.

O problema é que a zona costeira onde a espécie vive também é a usada para as pescas artesanal e industrial. Conforme Marta, ainda não se sabe ao certo, mas provavelmente os animais não detectam a tempo ou não entendam a rede como um perigo.

Existe um estudo do projeto Toninhas que está sendo intensificado na Baía da Babitonga para testar alarmes presos em redes. É um equipamento que produz um som para que os animais se afastem. Se der certo, poderá ser usado em maior escala em outros lugares de mar aberto.

Outro risco à espécie é a contaminação dos mares. A especialista explica que uma toninha come um peixe contaminado, que já havia comido outro peixe contaminado e, assim, sucessivamente. E esse é um problema mais crônico de médio a longo prazo. A toninha é considerada topo de cadeia, equilibrando o ambiente onde vive. Se desaparecer, existe a tendência de haver um desequilíbrio que é difícil de se mensurar.

– Haverá consequências para todo o sistema – destaca.

As frentes de trabalho

No Projeto Toninhas os pesquisadores atuam em três frentes:

- Uma delas é com educação e sensibilização ambiental. Há um centro de visitação em São Francisco do Sul, um website com informações e materiais de divulgação. Estão sendo feitos uma animação e um aplicativo para celular.

- Outra frente é o trabalho com as comunidades pesqueiras e a discussão de manejo e conservação, buscando entender o que é possível fazer e negociando medidas de proteção com órgãos públicos.

- A terceira é a pesquisa, em que o grupo gera dados sobre os animais por meio de uma série de ações com o objetivo de propor alternativas à preservação da espécie. Entre essas ações, foi feito um procedimento inédito no Brasil de instalação de transmissores via satélite nas toninhas durante dois anos, em parceria com instituições dos Estados Unidos e da Argentina. Foi possível monitorar o movimento dos animais. Atualmente, o projeto faz um trabalho na área de acústica com pesquisados da Alemanha e Suécia. São instalados equipamentos no fundo do mar que gravam os sons dos golfinhos para monitorá-los também no caso de não ser possível vê-los. A técnica já foi usada no Brasil de forma pontual, mas agora ela é feita com redes de equipamentos, o que a transforma em algo inédito. Há também a identificação visual em que os pesquisadores conhecem as toninhas individualmente pelo desenho da nadadeira dorsal. A equipe fotografa o animal no mar e consegue acompanhar, por exemplo, se ele teve filhotes ou não.

Fonte:AN

São Chico em Foco

Não é que sou fofoqueiro, mais é que não gosto de guardar segredos . E qdo a novidade é bafônica tem que passar pra frente o mais rápido possível. Não estou certo ?! hahaha

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